O colaborador-cliente

A Toyota é sempre lembrada quando tratamos do tema das novas tecnologias de relações humanas que objetivam a qualidade e a produtividade em nossas relações de trabalho. Mas afinal quando a Toyota mudou sua cultura de trabalho pela última vez?

Faz muito tempo que a Toyota mudou sua filosofia de trabalho. Quando acabou a guerra em 1945 a empresa simplesmente não tinha para quem vender seus veículos pesadões cujo principal comprador, o exercito imperial japonês, havia acabado de falir. Sem produto e sem clientes, portanto com muito tempo para conversar, um dos engenheiros da empresa voltou-se para seus funcionários e pediu sugestões sobre que tipo de veiculo eles gostariam de comprar. Daquelas conversas incipientes surgiu o maior fenômeno de vendas em todo o mundo automotivo; o Corola.

CCQ, 5S e Kanban são apenas algumas das ferramentas desenvolvidas a partir daquele encontro inicial entre patrões e empregados na Toyota.

No fundo a Toyota só mudou uma vez sua forma de gerenciamento de pessoal e foi naquela conversa. De lá para cá o que tem acontecido é simplesmente o desenvolvimento e o aprimoramento das relações de trabalho a partir daquele novo paradigma estabelecido naquela longínqua reunião.

O paradigma quebrado naquele verão pós guerra foi o da existência de uma sabedoria maior dos chefes e de uma pobreza de idéias entre os operários, atualmente chamados de colaboradores.

O novo paradigma instituído na Toyota afirmava simplesmente o obvio reconhecimento de que quem está com a mão na massa fabricando tem uma visão privilegiada do produto que se for levada em conta tende a colaborar com a qualidade final do produzido. E não podemos esquecer que ao inserimos, ver-da-dei-ra-men-te, o operacionalizador (o operário) no processo de reflexão sobre o produto produzido, as idéias e objeções que nos são trazidas, também são, em última analise a opinião do cliente.

A grande revolução da Toyota ao inserir o trabalhador no processo decisório de produção foi entendê-lo como um cliente. E o cliente sempre tem razão.

Patrões mais Empregados

Porque temos tanta dificuldade de nos adaptarmos a novas relações de trabalho foi a pergunta que ficou em aberto no artigo: Patrões versus Empregados, publicado na edição anterior desta coluna. Vamos ver se temos uma resposta satisfatória.

Antigamente, não muito tempo atrás, as coisas eram e continuavam sendo por muito tempo ainda. Minha avó deixou de herança para minha mãe uma máquina de costura Singer de pedais e correia de couro tubular que somadas as duas donas costurou por quase cinqüenta anos.

Eu que aprendi a colocar a linha no buraco da agulha para minha avó, quando já não enxergava tão bem, provavelmente, tanto quanto ela ou minha mãe, não saberia, na BGO, diferenciar uma Overlock Lumak de um torno. A última vez que vi a Singer da minha mãe ela estava num museu da malha em Jaraguá.

As máquinas, os processos não mudaram apenas, como mudam continuamente, tornando quase impossível a adequação do empregado as novas condições de trabalho. Quando estamos nos habituando ao sistema surge uma nova ferramenta. (Depois ainda dizem que a gente anda pela fábrica estressado porque brigou com a mulher).

Neste contexto virtualmente globalizado também não é fácil ser patrão e administrar a empresa com processos e métodos alienígenas importados sabe lá de que planeta só com a certeza de um consultor de sorriso fácil e terno bem cortado que costumam aparecer e desaparecer junto com as novidades da revista Você e Cia ou Exame.

No fundo deveríamos continuar administrando e trabalhando com a humildade e cautela que nossos avós, que construíram as maiores empresas de Blumenau, nos ensinaram. Como dizia minha avó quem busca fora o que está perdido dentro do coração não tem idéia do que já perdeu.

Para fechar, outra pergunta: alguém saberia dizer quando foi há última vez que a Toyota mudou sua metodologia de trabalho? Respondo na próxima edição, isto se até lá, ainda não tivermos sido substituídos pela próxima novidade do mercado.

Claudemir Casarin
psicólogo socionomista

O Sal da Motivação

Será que técnico ganha jogo? É claro que ganha, e também perde. Para ver se ganha mesmo, experimente jogar num time sem treinador contra uma equipe comandada pelo Felipão ou pelo Luxemburgo. Deu para entender?
A vitória tem sempre um comandante. Mas nem só com uma liderança se alcança uma conquista. Precisamos de guerreiros, tarefeiros, obreiros, colaboradores que não necessariamente precisão ser os melhores, individualmente. Como, aliás, nossa seleção, algumas vezes, tão bem demonstra: um amontoado dos melhores do mundo não é suficiente para formar um time vencedor.
Uma boa equipe de futebol na Copa ou um bom grupo de trabalho na empresa tem que ter envolvimento, amor à camisa. É ai que entra a principal característica de um bom líder: motivar. Liderar é motivar. Ninguém se esforça, sua a camisa, sem um bom motivo.
Será que ganhar a Copa do Mundo é um bom motivo para nossos jogadores fazerem mais do que se arrastarem em campo? Pelo que já infelizmente assistimos em algumas finais de Copa, parece que nem sempre.
Será que o dinheiro que um trabalhador ganha no final do mês é motivo suficiente para ele fazer melhor no seguinte? Isto me lembra que a palavra salário vem do latim salarium argentum dos tempos em que os imperadores romanos pagavam seus soldados que voltavam vivos de uma batalha com sal. Ninguém imagina que um legionário daria seu sangue por sal. Claro que não. O que movia os colaboradores do Império Romano é a mesma coisa capaz de fazer funcionar a sua empresa hoje: a fé do colaborador no seu líder.
Claro que todo mundo quer ganhar uma Copa ou ficar rico. Mas trabalhar, dar duro, suar a camisa não se faz por interesse, mas por devoção. Dinheiro nenhum no mundo é capaz de comprar nossa devoção, nossa fé, nossa confiança, nosso interesse.
Treinador não ganha jogo se não ganhar antes a confiança da equipe.
Não é por acaso que o Rei dos reis, mesmo tendo treinado só um punhado de discípulos há dois mil anos, tenha hoje milhões de devotos colaboradores em todo o mundo e sem pagar nada.

QUEM É O CLIENTE?

OS CLIENTES DO OPERÁRIO

DO PÉ DE CHINELO

DO PEÁO, DO FAZ-TUDO

SÃO O CHEFE DE SEÇÃO,

O GERENTE, O DIRETOR,

O DONO E O CLIENTE DA EMPRESA.

OS CLIENTES DO CHEFE DE SEÇÃO

SÃO O GERENTE, O DIRETOR,

O DONO E O CLIENTE DA EMPRESA.

OS CLIENTES DO GERENTE

SÃO O DIRETOR, O DONO

E O CLIENTE DA EMPRESA.

OS CLIENTES DO DIRETOR

SÃO O DONO

E O CLIENTE DA EMPRESA.

O CLIENTE DO DONO

É O CLIENTE DA EMPRESA.

O CLIENTE É O PATRÃO.

CLIENTE NÃO INCOMODA: FISCALIZA.

NÃO EXISTE CLIENTE MAL AGRADECIDO,

HÁ CLIENTE INSATISFEITO.

NÃO EXISTE CLIENTE IGNORANTE,

HÁ CLIENTE MAL INFORMADO.

QUAL É O NOSSO MELHOR CLIENTE?

AQUELE QUE NOS PRESENTEIA NO NATAL

OU O QUE PAGA PELOS NOSSOS SERVIÇOS?

QUAL É O NOSSO MELHOR CLIENTE?

AQUELE QUE NOS SORRI PELA MANHÃ

OU O QUE PAGA PELOS NOSSOS SERVIÇOS?

QUAL É O NOSSO MELHOR CLIENTE?

AQUELE QUE NOS TRATA COM DELICADEZA

OU O QUE PAGA PELOS NOSSOS SERVIÇOS?

QUAL É O NOSSO MELHOR CLIENTE?

AQUELE QUE NÃO RECLAMA NOSSOS ERROS

OU O QUE PAGA PELOS NOSSOS SERVIÇOS?

CLIENTE NÃO É AMIGO.

CLIENTE NÃO PRECISA SER ATENCIOSO.

CLIENTE NÃO TEM QUE TER PACIÊNCIA

NEM ENTENDER DO QUE FAZEMOS

OU DO TRABALHO QUE NOS DÁ ATENDÊ-LO.

CLIENTE PODE FAZER A CARA QUE QUISER.

PODE REJEITAR PELA COR.

PODE DISCUTIR A PARAFUSETA.

PODE O QUE DER NA TELHA.

CLIENTE PODE SER BICHA OU TRICHA.

PODE SER NOVO, VELHO, BONITO, FEIO,

BANGUELA, ZOIÚDO, BOLUDO,

O DIABO, O MALVADO, O DEMÔNIO,

A SOGRA, A EX-SOGRA, O EX-MARIDO,

A AMANTE DO SEU MARIDO.

O CLIENTE PODE SER

O RAIO QUE O PARTA.

PODE ATÉ SER POBRE.

ELE SÓ NÃO PODE SER INADIMPLENTE,

PORQUE TUDO QUE ALGUÉM PRECISA

PARA SER NOSSO CLIENTE

É DE DINHEIRO PARA PAGAR

PELOS NOSSOS SERVIÇOS,

E UMA VEZ QUE O ACEITAMOS

SÓ NOS CABE FAZER UMA COISA:

PRESTAR BEM O SERVIÇO CONTRATADO.

OBVIAMENTE, NÃO PRECISAMOS

ACEITAR A TODOS COMO CLIENTES,

MAS TEMOS DE TRATAR BEM, MUITO BEM,

TODOS OS NOSSOS CLIENTES.

Claudemir Casarin
psicólogo socionomista

Evoluir Faz Parte do Jogo

No futebol se vive de resultados. Era a frase que encerrava uma matéria no Santa sobre a sofrível goleada que amargamos no Alto Vale dias atrás.

A impressão que tenho é que no futebol não é de resultados que se vive, mas de frases de efeito. Por exemplo, na semana anterior saímos todos verdes de orgulho do SESI depois de uma outra goleada, só que aplicada por nós. Daí se dizia “esquadra verde”! Podia se ouvir durante o jogo, ainda que timidamente, um “rumo a Tóquio”.

Uma semana antes do vareio em Ibirama ouviamos jogadores, dirigentes e entendidos sorridentes falando em “jogo de equipe”, “elenco bem entrosado”. Apenas um dia depois da derrota plural, o que era visto como exemplo de união e alegria entre os jogadores passou a ser taxado de “noitadas”.

Entre as características mais elogiadas num técnico de futebol inclui-se, invariavelmente, sua capacidade de aterrorizar os atletas até a exaustão psíquica. Claro que há também palavras de efeito para mascarar a afirmação acima (a qual, aliás, é feita apenas por um torcedor, categoria menor no futebol): em futebolês o técnico ditador é chamado de “organizador”, “linha dura” ou “disciplinador”.

No futebol, numa família ou numa empresa frases de efeito não movem ninguém, muito menos uma equipe, para a vitória - excetuando-se as de alguns políticos. Infelizmente nosso futebol ainda é organizado com metodologias do tempo das cavernas e especialistas idem. Impressiona como em momentos de pressão os dirigentes de um clube de futebol raciocinam exatamente como os povos menos evoluídos culturalmente, que vêem nas idéias autoritárias ou messiânicas a solução milagrosa para seus problemas.

Gostaria que algum entendido em futebol respondesse à seguinte pergunta: de onde tiram que uma equipe sob a pressão de uma derrota contundente, com sentimentos de segurança e confiança abalados dentro e fora de campo, vai responder satisfatoriamente se, ao invés de se tratar de minimizar as pressões, se lhe impõe uma sobrecarga alucinada de terror? De onde tiram que um grupo de pessoas trabalha melhor quando a pressão aumenta? Estes métodos arcaicos não são ensinados em nenhuma universidade desde a idade média.

O futebol é o mais lucrativo dos esportes desde o século XX, e talvez cresça também profissionalmente se buscar entender um pouco mais da natureza humana. Para isso precisa urgentemente passar a ser jogado um pouco mais com a cabeça e nem tanto com os pés, ao menos fora de campo.

Para fechar, aos quarenta e seis do segundo tempo, quero escrever a frase que mais me impressiona no futebol: “Em time que está ganhando não se mexe.” Traduzindo: para que evoluir se estamos ganhando? Fim de jogo.